Palavras ao vento - Cap. 1
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Palavras ao vento - Cap. 1
Palavras ao Vento
Fernanda
rennight@hotmail.com
Capítulo 1
Julia voltava da balada, resolveu parar o carro e ver o sol nascer. Caminhou até a praia, sentou-se na areia, tirou os sapatos e olhou para os lados. Ficou a observar alguns casais sentados ao longe que como ela estavam vendo o amanhecer, tinha passado a noite com uma linda mulher, mas não esperou a outra acordar, naquela manhã seu coração experimentou um vazio que, desde que prometera nunca mais sofrer por amor, não sentia. Por mais que andasse fugindo do amor, estava sentindo falta de amar. Levantou-se e começou a caminhar pela praia, a água do mar molhava seus pés.
De repente, viu uma folha de papel voando sem direção. Uma forte rajada de vento mudou a trajetória daquela folha perdida, trazendo-a para perto de si, mas nem ligou, apenas observou a folha pousar na areia. Outro vento soprou aquela folha, e esta caiu à sua frente, molhando-se na água.
Julia resolveu pegar a folha, já que parecia este o intento do destino. Deixou a água escorrer um pouco e começou a ler. Notou tratar-se de uma poesia. Sentou-se, deu outra olhada no mar e sentiu os primeiros raios de sol tocando-lhe a pele... voltou a atenção para o papel, já seco pelo vento.
Prisão
Me sinto só estando acompanhada
É como se estivesse num quarto escuro
Isolada, acorrentada, sufocada...
Procuro uma porta, uma saída
Revejo conceitos, sonhos, desejos...
Tá tudo tão escuro, tão isolado
As paredes estão se fechando
Os meus olhos se abrem,
Não vejo nada
Não consigo respirar
As correntes me apertam, me machucam
Você não vê, não percebe
Ninguém percebe
Meus braços doem
Meus pés estão dormentes
Perco os sentidos
Estou sonhando
Uma sala clara, portas e janelas abertas
Sinto meus braços e meus pés... agora sem marcas
Vejo a luz
Tento reconhecê-la
Vejo seus olhos
Me sinto calma, conduzida
Estou em paz, LIVRE!!!
Posso sair, andar, correr, viver...
Acordo perdida, no escuro, apertada
Ainda estou presa, acorrentada
Me lembro da luz, do espaço
Do vento que entrava pela janela
Foi um sonho...
Desisto de me lamentar, de ficar parada
Vou levantar, me soltar
Vou LUTAR
Abrir as janelas, sentir o vento
Vou CORRER, VIVER
Seguir em frente
Vou VIVER...
Sem escuridão
Sem amarras
Sem VOCE
Ao término da leitura, uma lágrima escorreu por seu rosto. Aquela poesia parecia ter sido escrita para ela. Lembranças doídas borbulharam em sua mente, não queria sentir aquela dor novamente, mas por alguma razão aquela poesia ressuscitou tudo de novo. Levantou-se, amassou a folha, jogou-a no mar. A onda a trouxe de volta. Mais uma vez resolveu pegá-la, desamassou-a, esperou secar, dobrou-a, guardou no bolso, e foi embora.
Chegando em casa foi direto para o banheiro, tomou um longo e demorado banho.
Algumas frases da poesia voltavam em sua mente junto com as lembranças que jurou nunca mais sentir, as quais tinha enterrado bem no fundo de sua alma, porém, naquele dia, tudo retornou ao seu coração.
- Isa você tem certeza que perdeu a sua poesia aqui na praia?
- Tenho Mariana, estava com as outras quando aquele vento forte soprou e espalhou todas as folhas.
- Amiga você não pode escrever de novo? Provavelmente voou para o mar, pode esquecer.
- Posso, mas não sairá igual parece que escrevi para uma pessoa em especial, alguém que não conheço. Fiquei olhando o mar e a cada palavra, a cada frase finalizada era como se um anjo estivesse sussurrando em meus ouvidos. Foi especial, e como sempre eu perco.
- Isa, pode ser que alguém tenha encontrado. Quem sabe, essa pessoa especial tenha sido presenteada pelo destino, e você não a tenha perdido, apenas o vento a levou para quem tinha que ler.
- Mari você acredita mesmo nisso?
- Não, só queria te animar, e achei bonito o que eu disse, hehehe.
- Mari você não tem jeito, sempre brincando com coisas sérias. Mas sabe, pode ter acontecido isto mesmo, que o vento tenha levado para a pessoa certa.
- Levou sim, amiga! Agora vamos.
Isabel olhou para o horizonte e sentiu uma paz em seu coração. Virou-se e seguiu sua amiga.
Já passava do meio dia quando Julia acordou, se virou e olhou para o rádio relógio que marcava 12:02. Vestiu-se rapidinho, colocou um jeans, uma blusa branca, penteou seus cabelos e fez um rabo de cavalo. Deu uma olhada no espelho para ver como estava, e sentiu-se bem. Antes de sair recolheu a poesia do bolso de sua calça. Pegou uma maçã e saiu comendo. Em 15 minutos chegou em sua Clínica.
- Oi, dra. Julia, disse Vanessa.
Julia cumprimentou algumas pessoas que estavam na sala de espera.
- Oi, Vanessa, venha até meu consultório. - Vanessa era sua secretária e melhor amiga.
- Julia você tem consultas agendadas até às 7 da noite, e por enquanto, ninguém ligou para desmarcar.
- Tá... me traga um café depois.
- Ju está tudo bem? Ficou com alguém noite passada?
- Fiquei, mas não é isto, hoje voltando da casa da... não me lembro o nome da mulher, acho que era Patrícia, bom não sei e não importa, parei na praia para ver o amanhecer. Estava me sentindo estranha e comecei a caminhar pela praia quando uma folha de papel surgiu de não sei onde. Fiquei olhando, passei por ela, o vento soprou de novo, a folha caiu na minha frente, resolvi pegar e tinha uma poesia escrita.
- Leia, Van!
- Prisão, quem escreveu esta poesia deveria estar muito mal, não acha Julia?
- Não sei, mas parece que foi feita para mim, quando terminei de ler eu estava chorando. Essas palavras me tocaram tão profundamente, fazia muito tempo que não sentia algo me tocar, fui tomada por uma emoção e lembranças que deixei de sentir a alguns anos. Joguei no mar e uma onda a trouxe de volta, e acho que era para mim, então peguei. Preciso encontrar a pessoa que escreveu isto, Van.
- Como você vai encontrar? Não tem nome do autor ou autora, nada. É apenas uma folha de papel com uma poesia.
- Eu não sei como, mas preciso achar essa pessoa! Mas agora é hora de trabalhar, e não esqueça do meu café.
- Já estou trazendo. Ah! Estava esquecendo uma de suas conquistas da semana passada, ligou te procurando, porque você dá o telefone daqui para essas mulheres?
- Porque tenho você para mentir para mim, eu lhe pago muito bem... Julia sorriu para amiga e com a mão a mandou sair.
Vanessa saiu sem falar nada, quis rir, mas se conteve.
- D. Maria a dra. já vai atendê-la.
- Mari estou ficando nervosa amanhã será o meu primeiro dia na escola, será que vou ser uma boa professora? Sei que é apenas uma substituição, mas será que as crianças vão gostar de mim? Vão me aceitar? Afinal já está acabando o ano letivo.
- Isa, não conheço uma pessoa que não goste de você, e as crianças vão te adorar.
- Acho que vão gostar de mim. Bom, me preparei para isto. Não quero ser uma professora qualquer, quero que se lembrem de mim para sempre. Tive uma professora, que me lembro até hoje, se chamava Glades, às vezes ela chorava na aula e fingia que não... eu sentava na frente, podia ver e sentir quando ela estava feliz ou triste. Acho que foi por causa dela que eu quis ser professora. Tinha um jeito especial para ensinar.
- Eu também tive uma professora inesquecível, mas recordo de uma cena que ficou na minha memória, não lembro o nome dela. Lembro que era professora de Ed. Física, pesava uns 90 quilos não sei, talvez fosse menos, mas eu era pequena e quando somos crianças vemos as coisas maiores, então estávamos na quadra, e ela inventou de fazermos ginástica. Era muito hilário, não conseguia fazer os exercícios para nos ensinar, era mais risada do que aula. Ela até que se esforçava! Certa hora, falou para todos se sentarem no chão. Não sei qual exercício que ela queria fazer, acho que era uma cambalhota... tentou uma vez, duas e na terceira foi... só que não conseguiu virar a cambalhota e também não conseguia desvirar... tentava, mas o peso dela não deixava, todo mundo rindo, então nós fomos ajudá-la a se sentar, estava vermelha feito pimentão. Não disse uma palavra. Depois daquilo, passou uns dias saiu da escola e tivemos um outro professor. Isa você tinha que estar lá para ver... você sabe que adoro dar risada das desgraças dos outros, eu pensava como uma professora de ed. física podia ser tão gordinha?
- Mari coitada dessa professora... hehehe. Só você mesmo para me fazer rir. Espero não engordar para não ser lembrada deste jeito por uma aluna como você...
- Bom, amiga ainda não será lembrada, mas do jeito que come, daqui a alguns anos, pode ter certeza que será lembrada desta maneira...
- Eu não como tanto assim, estou ansiosa, é só isto!
- Desde que te conheço, que a senhorita sempre foi boa de garfo e nunca ganhou uns quilinhos a mais, eu já não tenho a sua sorte. Parece que tudo o que como fica parado na minha barriga, dá uma olhada nisto, Isa!
- Meu Deus, que barriga é essa? Parece que está grávida, onde você a guarda?
- Eu ando murchando-a, como é bom deixá-la solta, hehehe.
- Como consegue andar todo o tempo murchando isso aí? hehehe
- Eu não sei, só sei que consigo... talvez com a força da minha mente.
- Você não tem mente! Está vendo riu de sua professora quando criança, daqui a pouco estará igual a ela e não vai conseguir dar uma cambalhota decente... hehehe
- Isa corre porque vou te encher de porrada, sou muito maior que você.
- eu sei... hehehe.
- Isa...
- Boa noite Seu Jorge, - disse Julia estendendo a mão para o seu paciente - nos vemos em quinze dias e saberemos como estarão seus exames.
- Obrigada dra. Julia eu acho que vai dar tudo normal. Tenho seguido todas as suas recomendações. Não quero passar por outra cirurgia.
- E eu também não quero fazer outra no senhor, então se cuide mesmo... hehe.
- Boa noite, Vanessa e boa noite Dra.
Julia era cardiologista e oncologista, mas tinha deixado a onco fazia alguns anos. Desde criança dizia que queria salvar muitas vidas. Ou seria médica ou bombeira. Como não gostava muito de fogo, resolveu que ser médica seria o melhor para ela.
Julia sempre foi forte desde menina, nunca perdia uma luta para seus irmãos que eram mais velhos. As meninas de sua idade tinham medo dela, as que não tinham, a achavam muito mandona e cheia de si. Sempre foi corajosa em tudo, nunca tinha medo de nada, e acabava andando mais com os meninos que com as meninas. Olhava para as meninas de uma maneira diferente, e como não sabia o porque daquilo, andar com os meninos era mais seguro até entender o que acontecia consigo.
- Vanessa acabaram minhas consultas? Estou morta, dormi muito pouco, a gata de ontem a noite acabou comigo...hehehe.
- Me poupe dos detalhes. Vamos lá para casa, o Carlos já deve ter feito o jantar. - Carlos é o marido de Vanessa. - Ele tem chegado cedo do trabalho e tem feito o jantar.
- Eu vou sim, com a fome que estou comia até a sua comida sem reclamar... hehehe. Vou pegar minhas coisas e já vamos embora. Estou com saudade de meu afilhado!
- Não vou te convidar mais para comer lá em casa já que minha comida é uma porcaria, bom às vezes nem eu gosto da minha gororoba, mas meu marido e meu filho nunca reclamaram! - Vanessa gritou para Julia ouvir.
- Eles não reclamam porque te amam. - Ela disse bem perto do ouvido de sua amiga.
- E você não me ama?
- Amo, mas sua comida é ruim, amiga! Está pronta? Então vamos. Que tal passarmos naquela sorveteria que o Julio adora e levar sorvetes pra nós?
Isabel tinha deixado sua família e noivo para estudar na capital e como sua amiga Mariana iria vir também não pensou duas vezes. Vieram morar com uma irmã da mãe de Mariana que vivia sozinha, e se alegrou muito com a chegada das meninas.
Isabel adorava brincar de escolinha, e sempre escolhia ser a professora, acabou estudando para ser. Tinha se formado alguns meses atrás e ainda não havia conseguido uma escola para dar aula.
Semana passada recebeu dois telefonemas de duas escolas. O primeiro era de um colégio particular de renome que ela nunca imaginou que pudesse chamá-la para trabalhar. E o outro era de uma escola pública, que havia passado no concurso. Ficou muito feliz.
Na escola pública começaria no início do ano, uma seria na parte da manhã e a outra à tarde, ficavam próximas. Era jovem, iria dar conta das duas escolas, um desafio para ela.
Isabel era uma moça sonhadora, sempre via bondade nas pessoas, tinha o coração puro. Já havia passado por algumas coisas ruins mas não deixou seu coração se fechar. Também tinha seus defeitos, era humana, afinal. Na adolescência começou a escrever poesias, queria colocar no papel tudo o que sentia, seus sentimentos aqueles mais escondidos, aqueles que até ela mesma tinha medo de sentir. Falava muito, mas esses sentimentos, guardava só para si.
- Isa venha jantar. Disse dona Fátima. Hoje seremos só nós duas, a Mari foi jantar na casa do namorado. - A senhora está na porta do quarto de Isabel. É uma mulher de 60 anos nunca se casou, também não teve filhos e acabou adotando Mari e Isa como filhas.
- Vamos dona Fátima, as duas saíram do quarto abraçadas, o cheirinho está muito bom, estou faminta...
As duas jantaram e depois foram conversar na sala.
- Você está bem? A Mari comentou comigo que estava nervosa por causa do seu primeiro dia na escola.
- Estou muito, acho que não vou conseguir dormir esta noite. Sonhei com este dia, estagiei, mas eu ficava mais brincando com as crianças, as professoras pareciam já cansadas e sem motivação, não sei... espero não ficar como elas algum dia.
- Eu tenho certeza que nunca vai perder a motivação, seja você mesma sempre, às vezes vai ficar difícil, vai achar que não consegue voltar no outro dia, mas sempre volta. Vivi 30 anos dentro de escolas, não fui uma boa professora, fui muito rígida, hoje acho que poderia ter conhecido melhor meus alunos, poderia ter sido mais amiga, às vezes exagerei, arrependimentos vieram muito depois. Acho que agora na velhice, tenho tempo para lembrar de muita coisa que fiz de errado. Isa eu nunca tive esse brilho pela profissão que você tem. Só fui uma professora comum e você será especial.
- Nunca imaginei que a senhora tivesse sido uma professora rígida, é tão boa, tão paciente. Quando eu estava estudando para o vestibular me ajudou a estudar, me ensinou, não consigo vê-la como me disse.
- Porque você foi a primeira que desejei ensinar, nunca quis ser professora, meus pais me obrigaram, acabei sendo sem vontade alguma e me acostumei com os anos. Acho que está na hora de você ir dormir, ou tentar, vai ter que acordar cedo.
- Boa noite professora Fátima, obrigada. - Deu um beijo na senhora e foi para o seu quarto.
Em seu carro Julia voltava para casa. Ligou o rádio no mesmo instante em que Isa ligou o seu som. Começou a tocar uma música que ambas ouviram ao mesmo tempo.
Coisas que eu sei - Danni Carlos
Eu quero ficar perto de tudo o que acho certo.
Ate o dia que eu mudar de opinião.
A minha experiência meu pacto com a ciência.
Meu conhecimento é minha distração
coisas que eu sei.
Eu adivinho sem ninguém ter me contado.
Coisas que eu sei,
o meu rádio relógio mostra o tempo errado, aperte o play.
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado.
Ninguém sabe mexer na minha confusão.
É meu ponto de vista, não aceito turista.
Meu mundo está fechado para visitação.
Coisas que eu sei
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa é, minha lei.
Eu corto meus dobrados,acertos meus pecados,
Ninguém pergunta mais depois que eu já paguei.
Eu vejo filme em pausa, eu imagino casas
Depois eu já nem lembro do que eu desenhei.
Coisas que eu sei
Não guardo mais agenda no meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos que eu não sei usar, eu já comprei
Às vezes, da preguiça na areia movediça
Quanto mais eu mexo mais me afundo em mim
Eu moro num cenário do lado imaginário
Eu entro e saio sempre quando estou afim
Coisas que eu sei
As noites ficam claras no raiar do dia,
Coisas que eu sei
São coisas que antes eu somente não sabia
Agora eu sei
- Amei esta música! Ambas disseram no final!
Julia já em casa e deitada, pegou a poesia e leu outra vez. Decidiu que encontraria quem tinha escrito. Logo caiu no sono. E Isa dormia feito um anjo em sua casa.
Continua...
Fernanda
rennight@hotmail.com
Capítulo 1
Julia voltava da balada, resolveu parar o carro e ver o sol nascer. Caminhou até a praia, sentou-se na areia, tirou os sapatos e olhou para os lados. Ficou a observar alguns casais sentados ao longe que como ela estavam vendo o amanhecer, tinha passado a noite com uma linda mulher, mas não esperou a outra acordar, naquela manhã seu coração experimentou um vazio que, desde que prometera nunca mais sofrer por amor, não sentia. Por mais que andasse fugindo do amor, estava sentindo falta de amar. Levantou-se e começou a caminhar pela praia, a água do mar molhava seus pés.
De repente, viu uma folha de papel voando sem direção. Uma forte rajada de vento mudou a trajetória daquela folha perdida, trazendo-a para perto de si, mas nem ligou, apenas observou a folha pousar na areia. Outro vento soprou aquela folha, e esta caiu à sua frente, molhando-se na água.
Julia resolveu pegar a folha, já que parecia este o intento do destino. Deixou a água escorrer um pouco e começou a ler. Notou tratar-se de uma poesia. Sentou-se, deu outra olhada no mar e sentiu os primeiros raios de sol tocando-lhe a pele... voltou a atenção para o papel, já seco pelo vento.
Prisão
Me sinto só estando acompanhada
É como se estivesse num quarto escuro
Isolada, acorrentada, sufocada...
Procuro uma porta, uma saída
Revejo conceitos, sonhos, desejos...
Tá tudo tão escuro, tão isolado
As paredes estão se fechando
Os meus olhos se abrem,
Não vejo nada
Não consigo respirar
As correntes me apertam, me machucam
Você não vê, não percebe
Ninguém percebe
Meus braços doem
Meus pés estão dormentes
Perco os sentidos
Estou sonhando
Uma sala clara, portas e janelas abertas
Sinto meus braços e meus pés... agora sem marcas
Vejo a luz
Tento reconhecê-la
Vejo seus olhos
Me sinto calma, conduzida
Estou em paz, LIVRE!!!
Posso sair, andar, correr, viver...
Acordo perdida, no escuro, apertada
Ainda estou presa, acorrentada
Me lembro da luz, do espaço
Do vento que entrava pela janela
Foi um sonho...
Desisto de me lamentar, de ficar parada
Vou levantar, me soltar
Vou LUTAR
Abrir as janelas, sentir o vento
Vou CORRER, VIVER
Seguir em frente
Vou VIVER...
Sem escuridão
Sem amarras
Sem VOCE
Ao término da leitura, uma lágrima escorreu por seu rosto. Aquela poesia parecia ter sido escrita para ela. Lembranças doídas borbulharam em sua mente, não queria sentir aquela dor novamente, mas por alguma razão aquela poesia ressuscitou tudo de novo. Levantou-se, amassou a folha, jogou-a no mar. A onda a trouxe de volta. Mais uma vez resolveu pegá-la, desamassou-a, esperou secar, dobrou-a, guardou no bolso, e foi embora.
Chegando em casa foi direto para o banheiro, tomou um longo e demorado banho.
Algumas frases da poesia voltavam em sua mente junto com as lembranças que jurou nunca mais sentir, as quais tinha enterrado bem no fundo de sua alma, porém, naquele dia, tudo retornou ao seu coração.
- Isa você tem certeza que perdeu a sua poesia aqui na praia?
- Tenho Mariana, estava com as outras quando aquele vento forte soprou e espalhou todas as folhas.
- Amiga você não pode escrever de novo? Provavelmente voou para o mar, pode esquecer.
- Posso, mas não sairá igual parece que escrevi para uma pessoa em especial, alguém que não conheço. Fiquei olhando o mar e a cada palavra, a cada frase finalizada era como se um anjo estivesse sussurrando em meus ouvidos. Foi especial, e como sempre eu perco.
- Isa, pode ser que alguém tenha encontrado. Quem sabe, essa pessoa especial tenha sido presenteada pelo destino, e você não a tenha perdido, apenas o vento a levou para quem tinha que ler.
- Mari você acredita mesmo nisso?
- Não, só queria te animar, e achei bonito o que eu disse, hehehe.
- Mari você não tem jeito, sempre brincando com coisas sérias. Mas sabe, pode ter acontecido isto mesmo, que o vento tenha levado para a pessoa certa.
- Levou sim, amiga! Agora vamos.
Isabel olhou para o horizonte e sentiu uma paz em seu coração. Virou-se e seguiu sua amiga.
Já passava do meio dia quando Julia acordou, se virou e olhou para o rádio relógio que marcava 12:02. Vestiu-se rapidinho, colocou um jeans, uma blusa branca, penteou seus cabelos e fez um rabo de cavalo. Deu uma olhada no espelho para ver como estava, e sentiu-se bem. Antes de sair recolheu a poesia do bolso de sua calça. Pegou uma maçã e saiu comendo. Em 15 minutos chegou em sua Clínica.
- Oi, dra. Julia, disse Vanessa.
Julia cumprimentou algumas pessoas que estavam na sala de espera.
- Oi, Vanessa, venha até meu consultório. - Vanessa era sua secretária e melhor amiga.
- Julia você tem consultas agendadas até às 7 da noite, e por enquanto, ninguém ligou para desmarcar.
- Tá... me traga um café depois.
- Ju está tudo bem? Ficou com alguém noite passada?
- Fiquei, mas não é isto, hoje voltando da casa da... não me lembro o nome da mulher, acho que era Patrícia, bom não sei e não importa, parei na praia para ver o amanhecer. Estava me sentindo estranha e comecei a caminhar pela praia quando uma folha de papel surgiu de não sei onde. Fiquei olhando, passei por ela, o vento soprou de novo, a folha caiu na minha frente, resolvi pegar e tinha uma poesia escrita.
- Leia, Van!
- Prisão, quem escreveu esta poesia deveria estar muito mal, não acha Julia?
- Não sei, mas parece que foi feita para mim, quando terminei de ler eu estava chorando. Essas palavras me tocaram tão profundamente, fazia muito tempo que não sentia algo me tocar, fui tomada por uma emoção e lembranças que deixei de sentir a alguns anos. Joguei no mar e uma onda a trouxe de volta, e acho que era para mim, então peguei. Preciso encontrar a pessoa que escreveu isto, Van.
- Como você vai encontrar? Não tem nome do autor ou autora, nada. É apenas uma folha de papel com uma poesia.
- Eu não sei como, mas preciso achar essa pessoa! Mas agora é hora de trabalhar, e não esqueça do meu café.
- Já estou trazendo. Ah! Estava esquecendo uma de suas conquistas da semana passada, ligou te procurando, porque você dá o telefone daqui para essas mulheres?
- Porque tenho você para mentir para mim, eu lhe pago muito bem... Julia sorriu para amiga e com a mão a mandou sair.
Vanessa saiu sem falar nada, quis rir, mas se conteve.
- D. Maria a dra. já vai atendê-la.
- Mari estou ficando nervosa amanhã será o meu primeiro dia na escola, será que vou ser uma boa professora? Sei que é apenas uma substituição, mas será que as crianças vão gostar de mim? Vão me aceitar? Afinal já está acabando o ano letivo.
- Isa, não conheço uma pessoa que não goste de você, e as crianças vão te adorar.
- Acho que vão gostar de mim. Bom, me preparei para isto. Não quero ser uma professora qualquer, quero que se lembrem de mim para sempre. Tive uma professora, que me lembro até hoje, se chamava Glades, às vezes ela chorava na aula e fingia que não... eu sentava na frente, podia ver e sentir quando ela estava feliz ou triste. Acho que foi por causa dela que eu quis ser professora. Tinha um jeito especial para ensinar.
- Eu também tive uma professora inesquecível, mas recordo de uma cena que ficou na minha memória, não lembro o nome dela. Lembro que era professora de Ed. Física, pesava uns 90 quilos não sei, talvez fosse menos, mas eu era pequena e quando somos crianças vemos as coisas maiores, então estávamos na quadra, e ela inventou de fazermos ginástica. Era muito hilário, não conseguia fazer os exercícios para nos ensinar, era mais risada do que aula. Ela até que se esforçava! Certa hora, falou para todos se sentarem no chão. Não sei qual exercício que ela queria fazer, acho que era uma cambalhota... tentou uma vez, duas e na terceira foi... só que não conseguiu virar a cambalhota e também não conseguia desvirar... tentava, mas o peso dela não deixava, todo mundo rindo, então nós fomos ajudá-la a se sentar, estava vermelha feito pimentão. Não disse uma palavra. Depois daquilo, passou uns dias saiu da escola e tivemos um outro professor. Isa você tinha que estar lá para ver... você sabe que adoro dar risada das desgraças dos outros, eu pensava como uma professora de ed. física podia ser tão gordinha?
- Mari coitada dessa professora... hehehe. Só você mesmo para me fazer rir. Espero não engordar para não ser lembrada deste jeito por uma aluna como você...
- Bom, amiga ainda não será lembrada, mas do jeito que come, daqui a alguns anos, pode ter certeza que será lembrada desta maneira...
- Eu não como tanto assim, estou ansiosa, é só isto!
- Desde que te conheço, que a senhorita sempre foi boa de garfo e nunca ganhou uns quilinhos a mais, eu já não tenho a sua sorte. Parece que tudo o que como fica parado na minha barriga, dá uma olhada nisto, Isa!
- Meu Deus, que barriga é essa? Parece que está grávida, onde você a guarda?
- Eu ando murchando-a, como é bom deixá-la solta, hehehe.
- Como consegue andar todo o tempo murchando isso aí? hehehe
- Eu não sei, só sei que consigo... talvez com a força da minha mente.
- Você não tem mente! Está vendo riu de sua professora quando criança, daqui a pouco estará igual a ela e não vai conseguir dar uma cambalhota decente... hehehe
- Isa corre porque vou te encher de porrada, sou muito maior que você.
- eu sei... hehehe.
- Isa...
- Boa noite Seu Jorge, - disse Julia estendendo a mão para o seu paciente - nos vemos em quinze dias e saberemos como estarão seus exames.
- Obrigada dra. Julia eu acho que vai dar tudo normal. Tenho seguido todas as suas recomendações. Não quero passar por outra cirurgia.
- E eu também não quero fazer outra no senhor, então se cuide mesmo... hehe.
- Boa noite, Vanessa e boa noite Dra.
Julia era cardiologista e oncologista, mas tinha deixado a onco fazia alguns anos. Desde criança dizia que queria salvar muitas vidas. Ou seria médica ou bombeira. Como não gostava muito de fogo, resolveu que ser médica seria o melhor para ela.
Julia sempre foi forte desde menina, nunca perdia uma luta para seus irmãos que eram mais velhos. As meninas de sua idade tinham medo dela, as que não tinham, a achavam muito mandona e cheia de si. Sempre foi corajosa em tudo, nunca tinha medo de nada, e acabava andando mais com os meninos que com as meninas. Olhava para as meninas de uma maneira diferente, e como não sabia o porque daquilo, andar com os meninos era mais seguro até entender o que acontecia consigo.
- Vanessa acabaram minhas consultas? Estou morta, dormi muito pouco, a gata de ontem a noite acabou comigo...hehehe.
- Me poupe dos detalhes. Vamos lá para casa, o Carlos já deve ter feito o jantar. - Carlos é o marido de Vanessa. - Ele tem chegado cedo do trabalho e tem feito o jantar.
- Eu vou sim, com a fome que estou comia até a sua comida sem reclamar... hehehe. Vou pegar minhas coisas e já vamos embora. Estou com saudade de meu afilhado!
- Não vou te convidar mais para comer lá em casa já que minha comida é uma porcaria, bom às vezes nem eu gosto da minha gororoba, mas meu marido e meu filho nunca reclamaram! - Vanessa gritou para Julia ouvir.
- Eles não reclamam porque te amam. - Ela disse bem perto do ouvido de sua amiga.
- E você não me ama?
- Amo, mas sua comida é ruim, amiga! Está pronta? Então vamos. Que tal passarmos naquela sorveteria que o Julio adora e levar sorvetes pra nós?
Isabel tinha deixado sua família e noivo para estudar na capital e como sua amiga Mariana iria vir também não pensou duas vezes. Vieram morar com uma irmã da mãe de Mariana que vivia sozinha, e se alegrou muito com a chegada das meninas.
Isabel adorava brincar de escolinha, e sempre escolhia ser a professora, acabou estudando para ser. Tinha se formado alguns meses atrás e ainda não havia conseguido uma escola para dar aula.
Semana passada recebeu dois telefonemas de duas escolas. O primeiro era de um colégio particular de renome que ela nunca imaginou que pudesse chamá-la para trabalhar. E o outro era de uma escola pública, que havia passado no concurso. Ficou muito feliz.
Na escola pública começaria no início do ano, uma seria na parte da manhã e a outra à tarde, ficavam próximas. Era jovem, iria dar conta das duas escolas, um desafio para ela.
Isabel era uma moça sonhadora, sempre via bondade nas pessoas, tinha o coração puro. Já havia passado por algumas coisas ruins mas não deixou seu coração se fechar. Também tinha seus defeitos, era humana, afinal. Na adolescência começou a escrever poesias, queria colocar no papel tudo o que sentia, seus sentimentos aqueles mais escondidos, aqueles que até ela mesma tinha medo de sentir. Falava muito, mas esses sentimentos, guardava só para si.
- Isa venha jantar. Disse dona Fátima. Hoje seremos só nós duas, a Mari foi jantar na casa do namorado. - A senhora está na porta do quarto de Isabel. É uma mulher de 60 anos nunca se casou, também não teve filhos e acabou adotando Mari e Isa como filhas.
- Vamos dona Fátima, as duas saíram do quarto abraçadas, o cheirinho está muito bom, estou faminta...
As duas jantaram e depois foram conversar na sala.
- Você está bem? A Mari comentou comigo que estava nervosa por causa do seu primeiro dia na escola.
- Estou muito, acho que não vou conseguir dormir esta noite. Sonhei com este dia, estagiei, mas eu ficava mais brincando com as crianças, as professoras pareciam já cansadas e sem motivação, não sei... espero não ficar como elas algum dia.
- Eu tenho certeza que nunca vai perder a motivação, seja você mesma sempre, às vezes vai ficar difícil, vai achar que não consegue voltar no outro dia, mas sempre volta. Vivi 30 anos dentro de escolas, não fui uma boa professora, fui muito rígida, hoje acho que poderia ter conhecido melhor meus alunos, poderia ter sido mais amiga, às vezes exagerei, arrependimentos vieram muito depois. Acho que agora na velhice, tenho tempo para lembrar de muita coisa que fiz de errado. Isa eu nunca tive esse brilho pela profissão que você tem. Só fui uma professora comum e você será especial.
- Nunca imaginei que a senhora tivesse sido uma professora rígida, é tão boa, tão paciente. Quando eu estava estudando para o vestibular me ajudou a estudar, me ensinou, não consigo vê-la como me disse.
- Porque você foi a primeira que desejei ensinar, nunca quis ser professora, meus pais me obrigaram, acabei sendo sem vontade alguma e me acostumei com os anos. Acho que está na hora de você ir dormir, ou tentar, vai ter que acordar cedo.
- Boa noite professora Fátima, obrigada. - Deu um beijo na senhora e foi para o seu quarto.
Em seu carro Julia voltava para casa. Ligou o rádio no mesmo instante em que Isa ligou o seu som. Começou a tocar uma música que ambas ouviram ao mesmo tempo.
Coisas que eu sei - Danni Carlos
Eu quero ficar perto de tudo o que acho certo.
Ate o dia que eu mudar de opinião.
A minha experiência meu pacto com a ciência.
Meu conhecimento é minha distração
coisas que eu sei.
Eu adivinho sem ninguém ter me contado.
Coisas que eu sei,
o meu rádio relógio mostra o tempo errado, aperte o play.
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado.
Ninguém sabe mexer na minha confusão.
É meu ponto de vista, não aceito turista.
Meu mundo está fechado para visitação.
Coisas que eu sei
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa é, minha lei.
Eu corto meus dobrados,acertos meus pecados,
Ninguém pergunta mais depois que eu já paguei.
Eu vejo filme em pausa, eu imagino casas
Depois eu já nem lembro do que eu desenhei.
Coisas que eu sei
Não guardo mais agenda no meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos que eu não sei usar, eu já comprei
Às vezes, da preguiça na areia movediça
Quanto mais eu mexo mais me afundo em mim
Eu moro num cenário do lado imaginário
Eu entro e saio sempre quando estou afim
Coisas que eu sei
As noites ficam claras no raiar do dia,
Coisas que eu sei
São coisas que antes eu somente não sabia
Agora eu sei
- Amei esta música! Ambas disseram no final!
Julia já em casa e deitada, pegou a poesia e leu outra vez. Decidiu que encontraria quem tinha escrito. Logo caiu no sono. E Isa dormia feito um anjo em sua casa.
Continua...
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