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Fic Traduzida - Salva-me - Cap 2

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Mensagem  Fernanda Sáb Out 24, 2009 6:50 pm

Salva-me

Título Original - Salvame

Valeria XG

valxegab@hotmail.com

Tradução de Fernanda

rennight@hotmail.com



"Suas doces mãos me envolve.
a sanidade me vigia.
Seus olhos claros, é o único remédio
para minha dor.
Só o seu amor poderá me Salvar
Salva-me..."



Segunda Parte

"Nunca achei que o destino seria tão duro comigo, não posso acreditar que à dois meses, este quarto se transformou em minha casa, não posso crer que à dois meses que os enfermeiros, e médicos se transformaram nas únicas pessoas que conheço. Pergunto-me por que o Senhor, única testemunha de meu sofrimento me abandonou.
Olho-me e não me reconheço, meu corpo mudou, minha pele já não é a de antes e minha palidez e olheiras me fazem lembrar a cada momento a minha tortura.
Já tem algumas semanas que sou obrigada a usar um lenço horroroso em minha cabeça, porque meu longo e loiro cabelo também me abandonou. Sei que é por causa dos medicamentos, mas..."

- Andy?- a voz de seu pai tirou-a de seus pensamentos que nesse momento eram escrito em um diário.
- Pai... - um sorriso brotou em seu rosto triste e pálido. - Venha aqui..


O homem foi até sua pequena filha, não sem antes colocar uma máscara sobre a boca, era uma regra de segurança e higiene, para lhe dar um "beijo" através da tela que cobria a metade de seu rosto. Andy esticou um braço e envolveu o pescoço dele trazendo mais perto de seu corpo. O pai fez o mesmo, a cabeça dela agora coberta com um lenço com pequenos ossinhos, encostou no peito de seu pai.
- Está bem?- perguntou quando seus olhos verdes se encontraram.
- Sim - sorriu um pouco - é que estranhei.
- Eu te amo, filha.
- Eu mais papi- Andy se sentou na cama e balançou a perna de um lado para outro. Uma careta de dor cruzou seu rosto quando a agulha do soro fincou sua mão e saiu do lugar - Raios... como odeio isto.
- Calma... - disse seu pai.- Luciana veio?
- Sim, passou a noite aqui, mas a obriguei que fosse para casa descansar.
- Deve já ter chegado. - Reflexionou.
- Pai, a avó ligou?- Andrea olhou para a janela.
- Sim, ontem à noite... vem semana que vem.
- É sério?- um sorriso aflorou no rosto da jovem. E ficou maior quando a porta abriu e uma mulher de 1,80 olhos azuis entrou por ela. - Mas o que está fazendo aqui?
- Vim cuidar de você disse e sorriu - não consegui ficar em casa - admitiu.
- Mas deve estar cansada. - Luciana foi até Juan e estendeu a mão para saudá-lo.- bom dia Juan.
- Bom dia Luciana.
- Andy me de a sua mão- Andrea estendeu as duas mãos mas Luciana pegou a que tinha a agulha conectada e desprendeu cuidadosamente a fita que prendia e a olhou quando esta suspirou.
- Tem que tirar? - disse queixosa - é que dói quando tens que conectar uma nova. - explicou quando uma sobrancelha escura olhou para seu cabelo úmido e o aroma de canela e cítricos inundou seus sentidos, tinha tomado banho e vestido um jaleco cor de rosa de enfermeira.
- Tenho que tirar, Andy- sussurrou.
- Aiiii - queixou-se quando tirou a agulha de sua mão. Ela pegou um gaze e o umedeceu em uma solução marrom e limpou o lugar com cuidado, escorreu um pouco de sangue, que ela estancou e em seguida colocou um novo gaze, o dobrou com cuidado e pôs sobre o local e depois prendeu com a fita branca.- mas...


- No receituário diz que devo tirar todas as agulhas, exceto essa e assinalou a que tinha no antebraço esquerdo era por ali que lhe aplicavam a quimioterapia.
- Mas por que? - perguntou Juan sentado no sofá. A morena seguiu tirando as outras que restava no antebraço direito. E se virou para o homem e sorriu.
- Parece que sua menina respondeu bem ao tratamento e poderá ir para casa em uma semana.
- É sério? - Andy olhou-a incrédula por um momento mas no segundo um sorriso apareceu em seu rosto e seus olhos encheram-se de lágrimas, mas desta vez eram lágrimas de felicidade.- Isso quer dizer que estou curada?
- Não Andy... isso quer dizer que esta respondendo bem ao tratamento, mas...
- Devo seguir com as sessões de quimio, não é?
- Sim... mas quero que falem com o médico, ele vai explicar com todos os detalhes.
- Está certo - disse Juan enquanto se aproximava para abraçar a sua pequena. Te amo, filha.
- Eu mais, paizinho.- a loirinha abraçou seu pai.

O médico abriu a porta do quarto e quando saiu deixou três pessoas com um sorriso no rosto.


Os enxames tinham indicado que a doença estava em claro retrocesso e como Luciana tinha antecipado teria que continuar com a quimio até completar as dez sessões programadas. Só que em vez de ser uma a cada semana seriam cada duas semanas. Só lhe faltavam duas e isso seria mais um mês de tratamento.
Andrea estava parada olhando o céu azul e desfrutando do sol que lhe tocava o rosto.
Juan consultou seu relógio e viu que era tarde, pegou sua carteira e foi até sua filha, passou um braço por seu ombro e a abraçou.
- Filha ... preciso ir... - Andrea sorriu e devolveu o abraço.
- Pelo menos vai com uma boa notícia. Liga para a vovó e à tia.
- Quando chegar em casa vai ser a primeira coisa que farei. Deu-lhe um beijo na cabeça e se despediu de Luciana e se foi.
- Até amanhã Juan.

Andrea se aproximou de um pequeno armário e pegou uma camisola verde, e suas pantufas brancas. E o sabonete.

- Estou precisando tanto de um banho - confessou.
- Vou abrir a água enquanto termina isso. - a morena foi para o banheiro e encheu a banheira, verificou a temperatura da água e levantou-se. Encontrou-se com Andrea parada na porta, observando-a com os olhos brilhantes. - está tudo pronto madame. - Brincou.
- Obrigada, está morna. - tirou a roupa e entrou na banheira. A água cobriu sua nudez e aqueceu o corpo cansado. Encostou sua cabeça na beirada da banheira e fechou os olhos.
- Andy... tenho umas coisas pra fazer daqui uns minutos eu volto.
- Não tem problema, ficarei aqui até que volte.- abriu os olhos e os fixou nos azuis de Luciana e notou um brilho especial neles, mas não deu muita importância.

Luciana saiu do quarto e pegou seu celular. Depois de alguns toques e uma voz masculina atendeu.

- Franco? - Luciana sentou-se em um dos bancos que tinha no corredor e com sua mão livre passou em seu rosto.
- Olá Lucy... - ouviu uma porta se fechar e a morena franziu o cenho.
- Onde esta? - perguntou intrigada.
- Em meu quarto, porque tem uma daquelas amigas convencidas da mamãe aqui em casa. - um riso suave soou do outro lado do telefone. - elas falam demais.
- Fran eu sei... agora me diga o que está se passando?.
- É Marina, é ela Luciana.
- Não sei o que fazer, essa mulher me vai deixar louca...
- Lucy, vai ter que falar seriamente com ela... tem que a parar.
- Tenho que fazer antes de que o pai descubra. Não suspeitam de nada?
- Não, que eu saiba.
- Amanhã mesmo vou falar com ela. Tenho que ir Franco, tenho que voltar para Andrea.
- Como esta ela?.
- Bem, foi surpreendente sua evolução, se tudo sair bem é provável que semana que vem volte pra casa
- Me alegro muito com essa noticia, lhe manda um beijo e forças de minha parte, tá bom?.
- Vou dizer ... - a morena se levantou e dirigiu-se de novo para o quarto.- E já sabe Fran.
- Sei Lucy, não se preocupe. Beijos.
- Outros.


Luciana entrou no quarto e ouviu soluços vindo do banheiro. Lentamente se aproximou e olhou pela porta que estava entreaberta. Todos os dias era o mesmo, encontrou com Andrea sentada com suas mãos cheias de cabelos e seu rosto banhado de lágrimas. E todos os dias ela estava ali para a consolar.
Pegou uma toalha e entrou, Andrea tentou cobrir sua nudez, mas umas mãos fortes e suaves impediram-lhe.
- Calma... deixa-me te ajudar.
- Não, não quero que me veja assim - deu um empurrão afastando à morena que ficou gelada pela força que possuía sua "pequena". Estou farta tudo isto... por que não morri!!! - gritou com toda a fúria que trazia dentro de si.

Andrea se levantou e puxou o pouco de cabelo que ainda tinha, Luciana reagiu e pegou suas mãos, Andy pedia aos gritos que a soltasse. Várias enfermeiras foram ao quarto e contemplaram o incidente.
- Andy... calma. - Luciana tinha conseguido segurá-la para que não se machucasse mais. Sara, uma enfermeira de uns cinquenta anos atreveu-se a perguntar se precisavam de ajuda e Luciana respondeu que não era necessário, que já tinha tudo sobre controle. - Podem retirar-se, deixem-nos sozinhas.- pediu.
- Por que Luciana... por que eu? Já não agüento mais.
- Tem que ser forte Andrea... falta pouco... só duas sessões e tudo acabará.
- Ajuda-me Lu... - os olhos verdes alçaram-se para olhar os azuis de Luciana. - ajuda-me.
- Farei o que quiser Andy.

Já era noite, Andrea está sentada e olha seu reflexo no espelho. Atrás dela uma mulher morena e de olhos claros a observa. Suspira e seus olhos encontram-se no espelho.
- Tem certeza Andy?
- Não, mas não importa.. Faça.

A mulher consente e pega uma tesoura. Um mecha de cabelo cai no chão acompanhado por outras que vai caindo. Assim um a um foi cortado. Depois Luciana pegou uma máquina de cortar cabelo e a passa pela cabeça de Andrea.
Andrea estava com os olhos vermelhos de chorar. Olha-se e não acredita no que fez. Mas assim é melhor. Não terá que sofrer todas as vezes que vai tomar banho ou quando não queira usar lenços.


Levanta uma mão trêmula e passa por sua cabeça. Uns dedos longos e finos unem-se aos dela e a acaricia. Andrea fecha seus olhos e deixa cair suas lágrimas. Sente um par de braços que a rodeiam e um corpo quente em suas costas. Se vira e agarra com força ao abraço que a espera. Chorou... não sabe porquanto tempo... mas sabia que a segurança que aquele abraço lhe proporcionava, nunca a abandonou.

A voz suave a fez voltar à realidade. Se da conta que não está na cama, algo a sustenta firmemente. Podia ouvir as batida em seu ouvido direito. Uns braços rodeiam-na e uma voz harmoniosa levam-na para a glória... não quer acordar. Quer desfrutar plenamente desse momento. Seus olhos verdes abrem-se lentamente e sua mão acaricia o antebraço de Luciana. A batida acelera-se em seu ouvido. O seu também.

Levanta o olhar para encontrar-se com o rosto mais belo que o Senhor criou. Luciana a olha e um pequeno sorriso assoma de seus lábios.
- Está mais calma?- Andrea tenta incorporar-se, mas o abraço intensifica-se. - Não... fica assim.
- Não quero te aborrecer.
- Não está- Andy se acomoda no peito de Luciana e suspira. - melhor?
- sim - Andy volta a olhar para a janela e observa a lua, está brilhante e parece sorrir-lhe. - Lucy sinto muito, não quis te tratar mal...
- Andy, olha-me. Esquece isso... estou aqui para ajudar-te.
- Só por isso? - sussurra inconsciente a paciente.
- Não - olhos verdes a observam atentos.- E porque somos amigas e porque disse que nunca te deixaria sozinha. Lembra?.
- Sim.
- Quero que sempre se lembre.- a pequena sorri e concorda. O ruído que seu estômago produz a faz corar - Está com fome? - pergunta a morena.
- Muita, mas já é tarde.
- Verei que posso fazer. - Luciana levanta-se da cadeira que estava junto à janela e com ela Andrea, e a leva para a cama e a deita. Olha-a por um segundo e sorri. - Está bonita.
- Não caçoes devo estar horrível - Andy leva suas mãos para a cabeça e acaricia.
- Não, é sério. Ficou lindo. - um sorriso cruza o rosto da pequena e suas esmeraldas brilham.- O quer para o jantar?.
- Surpreende-me.
Deu um beijo na testa e fez uma caricia na bochecha e a morena sai do quarto rumo à cozinha.

*****

- Marina...
- Lucy?... Oi meu amor... - uma loira alta, de olhos castanhos claros espera que a morena vá até onde ela está parada. Luciana chega. E quer falar com esta mulher sobre o assunto que a envolve. - Quanto tempo que não nos vemos... Auuuch, Solta-me está louca?- Luciana pegou no braço dela e a levou quase arrastada. Um quarto vazio servirá para seu propósito.
- Só quero te dizer uma coisa Marina.- a loira olha-a com desejo e passa a língua pelos lábios, está tão perto... - Quero que me deixe em paz, entendeu?Para de mandar fotos para minha família, porque se descobrirem eu que te mato.- ameaçou
A veia do pescoço de Luciana estava a ponto de estourar e seu olhar gélido fulminava o da outra. Que não parecia intimidada. Marina esperou que Luciana terminasse de falar, e se lançou sobre a morena. Capturou seus lábios num beijo demolidor e com rapidez introduziu sua língua na boca de sua ex. Arrancando todo rastro de sensatez da cabeça morena.
- Que foi isso?- Luciana conseguiu se afastar de Marina e foi para perto da janela.
- Tentativa de fazer você voltar a razão, meu amor. - Marina a puxou pela cintura à e colou seu corpo nas costas de Luciana. - Eu te amo , Lucy- sussurrou em seu ouvido. - e você continua me amando?. - Suas mãos acariciavam o estômago da petrificada mulher enquanto sentia o desejo correr por suas veias outra vez.
Marina aproveitou o estado de Luciana e a encostou contra a parede. Lentamente deu-a volta até ficarem frente a frente e voltou a buscar sua boca. Desta vez não teve resistência. A loira sorriu por sua vitória, mas concentrou-se no esbelto corpo que voltava para ela.

Foram se livrando da roupa que impedia sentir pele com pele e começaram a "se amar". Luciana não conseguia pensar. Seu corpo estava à traindo vilmente, só conseguia sentir o prazer que a outra mulher lhe proporcionava. Tinha a procurado para parar com essa história e agora estava de novo nela, e em seus braços.
Luciana não pensava só sentia a boca de Marina devorar seus seios e uma das mãos aplicar pressão em seu sexo. Não podia negar, a desejava. Nunca tinha deixado de desejar.


Quando estava chegando ao êxtase com as caricias que lhe proporcionava Marina uma imagem veio a sua mente. O doce rosto de Andrea apareceu em sua mente e a ira e o arrependimento tomou posse de seu corpo. Com um empurrão livrou-se do corpo que tinha em cima dela e a mão que estava enterrada em seu sexo a abandonou, mas esse movimento desencadeou ondas de pequenos orgasmos que tentou frear.

- Que foi amorzinho?... não gosta mais de minhas caricias? a mulher tentou seduzi-la novamente levando sua mão molhada com o mel de seu amor a sua boca. E lambeu um a um de seus seus dedos e o sabor inundou os sentidos da mulher que delícia... como sempre.
- Está louca...?- Luciana estava colocando sua roupa e encarou à mulher. - Quero que desapareça de minha vida, para sempre. Entendeu?
- Humm, isso vai ser impossível, meu carinho... é minha se não se lembra?.
- Eu não pertenço a ninguém, Marina. Entendeu. A ninguém!!!.
- Tá certo? - Marina ajeitou seu cabelo e pegou um envelope, pegou uma foto e entregou a Luciana.- Eu diria que ela tem algo a ver en tudo isso.

Luciana observou a fotografia de duas noite atrás, quando estavam no sofá, depois da crise de Andrea... mas como conseguiu tirar?... isso era algo perigoso para sua carreira e para sua amizade com Andrea.

- Como conseguiu isto?- perguntou duramente enquanto pegava fortemente no braço de Marina.
- Calma princesa... não vai querer que sua garotinha se inteire disto verdade?... parece que se importa muito com ela.
- Me deixa em paz, Marina... não se meta com ela, por que senão...
- Senão o que?... Vai matar-me?...
- Juro por minha vida se aproximar-se dela ou a incomode de alguma maneira, sim... eu te mato... - Luciana encarou-a e olhou fixamente. - Não sabe com quem acaba de se meter Marina.

A morena deu meia volta e saiu pela porta, deixando a loira sozinha... era o que achava.

- Minha querida Luciana, quem não sabe com quem acaba de se meter foi você.
Disse em voz alta. Virou para a direita onde tinha um pequeno banheiro e sorriu: gravou tudo?- perguntou.
- Claro minha querida... - disse um homem alto e moreno vestido com calça e jaqueta de couro....

*****

Na casa do zelador estava tudo pronto para receber Andrea, os moradores do edifício tinham decidido reformar a casa, pintando e arrumando alguns trincos nas paredes. Luciana quis remobiliar o quarto de Andy. Já que seu aniversário estava próximo, tinha decidido presentear-lhe com móveis novos, que constaria de uma cama maior, uma estante, e um novo computador. Os últimos retoques fariam no fim de semana. Já que na quinta-feira ou sexta-feira da semana que vem Andy poderia receber alta da clínica, ainda que deveria voltar a cada quinze dias para últimas duas sessões de quimio.

Luciana despediu-se de Juan, tinha ido a uma loja. Comprar o computador pra Andy.
Pegou o elevador e chegou em sua casa. Argo esperava-a atrás da porta e começou a saltar ao ver a sua dona. Que grande estava, se assustou a morena. Só tinha alguns meses, mas seu corpo tinha crescido. Pegou a coleira e deu-lhe a ordem para sair.
Argo corria pelo corredor e nesse momento Juan entrava da rua, com algo que parecia comida.

- Olá Argoooo - disse contente e acariciou à cachorro. - vai sair para passear?
- Olá Juan.
- Luciana, como ela cresceu... se Andrea a visse não iria reconhecê-la.
- Logo ela irá ver , quando voltar para casa vou trazê-la para que a veja. Sei que a adora.
- Ela adora a todos os animais. Em especial os golfinhos e os cães Boxer.
- Sei. Ela gosta mesmo eu já percebi.
- Sim, desde que era menina. Deixo-a, amanhã tenho que ir cedo à clínica.
- A que horas tem que ir? - perguntou enquanto abria a porta da rua.
- Às nove, amanhã tenho que falar com os médicos, para ver quando posso trazer a Andrea para casa.
- Pelo que me disse o Dr. Farias, no fim de semana que vem, mas quer ver a evolução nestes dias.
- Foi o mesmo que me disseram. Tomara que seja assim.
- Deus queira, Juan.- a morena presenteou-lhe com um sorriso e saiu pela porta puxada por Argo que queria fazer suas necessidades.

O sol mal aparecia no céu, ainda era de madrugada. Andrea está sentada no sofá onde dias atrás Luciana amenizou seus temores. Eleva suas mãos e toca a cabeça, agora está menos doloroso. Seus olhos estão escuros e suas pupilas dilatadas, a pouca luz do lustre produz tal efeito. Suspira e volta a olhar para o seu diário. Que começou a escrever no primeiro dia em que foi capaz de sustentar firmemente uma caneta. Ali escreveu absolutamente tudo, seus tratamentos, seus temores, e seus sentimentos por aquela mulher maravilhosa que vela por sua saúde. Pergunta-se que horas é, ainda é verão e amanhece mais cedo, deve ser umas cinco da manhã. E não conseguiu dormir até aquela hora.
Sabe que em algumas horas virão pegá-la pra fazer mais enxames, aqueles que possivelmente lhe darão a liberdade.
A única coisa que deseja é passar seu aniversário em casa, faltam uns dias. Mas quero tanto estar em casa...
Andrea se ajeita no sofá e cobre-se com uma manta. Uma careta de dor cruza seu rosto, estica o braço onde ainda tem conectado o cateter para a quimio e suspira. Fica vendo o dia nascendo e acaba dormindo.



Hoje é o grande dia.


Luciana desliga o motor de seu carro e pega a mochila. Entra pela porta de vidro e dirige-se para o elevador. Caminha pelo longo corredor e abre a porta do quarto.
Entra e encontra sua pequena dormindo no sofá. Voltou a fazer, Andy ficou acordada a noite toda e quando começou amanhecer escreveu um pouco mais em seu diário e dormiu. A primeira vez que a encontrou assim foi uma semana atrás. Quando entrou e a viu levou um susto tremendo, pensou que tinha passado mal, mas dormia tranquilamente e quando acordou lhe deu a entender que foi algo que a mulher desejava fazer. Talvez a cama já não estivesse tão cômoda, já que a dois meses estava deitada nela. Outra coisa que descobriu foi que ao a acordar seus olhos verdes sorriram ao reconhecê-la. Andy se levantou um pouco e pediu-lhe que se sentasse a seu lado. A morena assim o fez e em segundos Andy se acomodou em seus braços. E assim ficaram um bom tempo. Desfrutando das sensações que o corpo uma da outra lhe brindavam. Mas nenhuma disse nada para que a outra soubesse.

Como nesta manhã, Luciana entrou e deixou sua mochila na cama, se ajoelhou em frente ao sofá e com uma suave caricia acordou Andy. Lentamente seus olhos abriram e perderam-se nos de Luciana, como todas as manhãs. Andy meio que se sentou para que a morena sentasse. Abriu os braços e deixou que a paciente se acomodasse.

- Oi - Andrea ergueu a cabeça do peito da morena e sorriu-lhe, Luciana não resistiu o impulso e lhe deu um beijo na testa. Uma pequena ruga formou-se na ponta do nariz, coisa que Luciana adorava de ver.
- Oi para você também- Luciana sorriu e olhou para a janela.
- Parece que vai fazer um lindo dia, não acha?
- Sim... está calor?.
- Um pouco... - Luciana olhou-a por um momento e depois sorriu. - quer comprovar por si mesma? - a cara de Andrea mudou, não sabia se tinha escutado bem ou o destino tinha posto palavras em sua cabeça.
- Quer dizer?- perguntou enquanto sentava-se nas pernas da mulher.
- Disse se quero comprovar se faz ou não, calor. - umas lágrimas formaram-se em seus olhos verdes e abraçou-se ao pescoço de Luciana.
- Isso quer dizer que posso ir pra casa?.
- Sim, meu anjo. - Luciana abraçou o corpo de Andrea e a embalou lentamente.- seu pai está te liberando, e vim te contar.
- Não estou acreditando.

Depois de carregar as coisas dela para o carro, Luciana voltou a entrar na clínica. Juan estava assinando a saída de Andrea e esta o esperava sentada numa cadeira de rodas. Luciana tinha ajudado a vestir-se, escolheu uma calça de moletom preta, camiseta branca e tênis .

- Pronta?- perguntou quando chegou a seu lado.
- Sim. - Luciana procurou em sua mochila um pacote e entregou a Andrea. - O que é isto?
- É para ti. Acho que vai gostar.
Andrea rasgou o papel e encontrou um boné de basebol preto com a imagem de um Boxer na frente. E dentro tinha um cartão escrito por Luciana.

- É lindo... obrigada. - Luciana sorriu-lhe e depois e pegou o boné e pôs na cabeça de Andrea.
- Ficou linda, Andy.- Andrea esticou sua mão e pegou a da morena, e se levantou e a abraçou.
- Eu te quero muito Lu... obrigada por ser minha amiga.- depois dessas palavras em seu ouvido. Deu-lhe um beijo no rosto.
- Também te quero Andy- Luciana tirou uma máscara e entregou a Andrea - tem que pôr isto.
- Tá.

Levaram meia hora para chegar, Andrea estava sentada atrás de Luciana e seus olhos encontravam-se a cada segundo, a máscara que cobria a metade de sua cara não lhe impedia de apreciar o sorriso que se desenhava no rosto dela.
- Está bem Andy? - a voz de seu pai a tirou de seus pensamentos.
- Sim, só quero chegar em casa.
- Já estamos chegando.- Luciana pegou uma Avenida conhecida e parou no semáforo. - Sabe que Argo vai ficar contente de te ver?
- É sério?- a alegria invadiu seu corpo ao pensar.- deve estar enorme.
- Logo a verás.

A porta da casa foi aberta por Juan que entrou com a bolsa e algumas sacolas com medicamentos e os pedidos de exames.
Luciana ajudou Andrea que ficou encantada com sua casa. Seus olhos brilharam quando olhou para seu quarto.

- Wow... Mas que aconteceu aqui?.
- Luciana o decorou.- explicou Juan.
- E tem uma pequena surpresa para ti.- Luciana apontou para uma caixa que estava em um canto do quarto.
- O Que é? - perguntou intrigada.
- Abre, senão perde a graça Andy, seu eu contar.

Andrea sentou-se na cadeira e rascou o papel que envolvia o pesado presente. Dentro da caixa estava uma nova CPU de seu computador.
- Não acredito.. mas quem... - olhou para seu pai e depois pra Luciana - Você. - disse sorrindo. - Por que?... Deve ter sido caro.
- Porque sei que gosta de computador e sei já estava velhinho... mas o monitor é bom e as outras coisas servem, só precisava mudar a CPU.
- Obrigada.. não estou acreditando.- Andrea levantou-se e abraçou o esbelto corpo de Luciana. Esta não perdeu a oportunidade e também a abraçou.
- De nada.

Juan fez questão de que Luciana ficasse para jantar com eles, mas ela não quis, alegando que tinha que levantar cedo. Pois tinha que ir a aula.
Assim que acomodou as coisas de Andrea e lhe falar sobre os medicamentos e o cuidado com cateter que ainda tinha no braço esquerdo, e foi para seu apartamento.

Depois do banho vestiu uma roupa confortável, e preparou um sanduíche e uma xícara de leite e foi comer em sua cama. Na tv estava passando um programa de animais, zapeou por diversos canais até que deixou no de música.
Argo entrou correndo no quarto e subiu na cama. Lambeu a mão e depois deitou ao lado dela. Os olhos da morena lutavam para mantê-los abertos. Mas por fim deu-se por vencida, apagou a tv e dormiu. Deitou ao lado da cachorra que já dormia e se rendeu aos braços do deus do sonho.

O som do despertador a despertou. Esticou a mão e desligou. Lentamente abriu os olhos e fecharam-se com força quando um raio de luz entrou pela janela. Com uma careta de desgosto por acordá-la de vez se levantou. Foi até a mesa e selecionou os remédios que tinha que tomar aquela hora. Encheu um copo com água fresca e engoliu-os. Preparou um café com leite. Umas torradas ainda quentes esperava-a que comeria com geléia de frutas.


Seu pai entrou na cozinha e sentou-se ao lado de sua filha. Pegou uma xícara com café e uma torrada. Andrea estava calada. Seu pai deu-se conta rapidamente que algo estava acontecendo com sua preciosa filha.

- Andy... - Andrea levantou o olhar e encontrou-se com o rosto preocupado de seu pai. Que foi?
- Nada, papai... é que estava pensando.
- Sabe que pode confiar em mim, filha.
- Sei ... é que estava pensando em tudo o que se passou nestes meses... e ainda não acredito que estou em casa.
- Alegro-me de que esteja aqui... - os olhos de seu pai escureceram-se e encheram-se de lágrimas. - Assustou-me Andy...
- Pai... eu... - ela levantou da cadeira e se sentou no colo de seu pai. Ele olhou para o rosto de sua filha, que ainda apresentava algumas olheiras e ainda continuava com uma cor amarelada. Acariciou a sua bochecha e a beijou na testa. Andrea não usava seu lenço e sua cabeça reluzia à luz do sol. E seus olhos verdes brilhavam mais.
- Tive medo de te perder, Andrea... não sabe o quanto me senti sozinho estes meses.
- Sinto... - Andrea abraçou com força seu pai. Ficou sentindo um bom tempo a calidez do corpo de Juan e lembrança de sua amiga voltaram a sua mente.

Andrea vestiu um moletom verde e uma camiseta branca. E calçou suas havaianas pretas e colocou um lenço preto também. Limpou o seu catéter e o cobriu com um gaze.
Pegou suas chaves, a máscara e saiu. Entrou no elevador e apertou o número cinco. Em segundos estava parada na porta e tocou a campainha. Ouviu a voz de um homem por trás da porta e foi este quem abriu.
A pequena mulher sorriu ao reconhecê-lo. Franco dedicou-lhe outro sorriso .

- Andrea... que bom te ver. - o rapaz inclinou-se e deu-lhe um suave beijo em sua bochecha.
- Franco... como tem passado?... - Andrea entrou no apartamento de Luciana e procurou-a com os olhos, mas não tinha rastro dela.
- Bem, estou feliz que esteja bem Andy, posso te chamar de Andy?
- Claro... e Luciana?. - perguntou enquanto sentava-se no sofá.
- Foi com Argo até a padaria da esquina, já deve estar chegando. Quer beber alguma coisa?...pode beber . - disse apontando para a máscara que cobria a sua boca.
- Sim... não é necessário que use aqui, mas é o costume - sorriu e tirou e guardou no bolso.
- Esta bem, melhor prevenir. - o alto rapaz entrou na cozinha e em minutos e trouxe um copo de suco de laranja.

A porta abriu e em seguida uma agitada cachorra entrou e lançou-se sobre Andy.

- Hei! Como está?- Andrea acariciou à cadela e virou-se para ver Luciana entrando carregada de sacola. - Oi, eu te ajudo?
- Oi.. não precisa. - foi até a cozinha e deixou tudo encima da pia. Voltou à sala e deu-lhe um beijo no rosto da sua amiga. - Oi de novo.
- Lu... eu vou aproveitar e vou indo, vou passar pra ver a Sabrina, chegou de suas férias.
- Mas não vai ficar pra comer?- perguntou enquanto examinava o braço da garota.
- Não, combinei com ela ontem à noite.
- Ok, então fica para a próxima - deixou o braço e sorriu-lhe - esta bem cuidado.

- Ufff - suspirou... era doloroso quando tinha que mudar o catéter.
- Andy, alegro-me que esteja bem.
- Foi um prazer falar contigo.
- Vou descer contigo - se virou para Andrea e sorriu-lhe. - pode me esperar um pouquinho?
- "Toda minha vida"- pensou Andrea - sim claro. - disse por fim.

Os irmãos desceram pelo elevador e chegaram na porta.

- Franco já sabe... me mantenha informada.
- Sim Lu... mas deve se cuidar. Aquela mulher está louca... já te falei, quase Damián descobriu, ainda bem que eu cheguei.
- Acha que vai falar com o pai?- a morena de olhos azuis olhou-o seriamente.
- Eu acho que está com muita raiva, Lu, e vai fazer tudo para que as pessoas que gosta fiquem sabendo de tudo.
- Andrea... - murmurou.
- Sim. - disse o rapaz.
- Então vou ter que ter cuidado. - disse sorrindo.
- É fatal, Luciana, sabe disso? - abraçou a sua irmã e despediu-se.

Andrea tinha posto um CD no som e percorreu a casa com os olhos, entrou na cozinha e deu uma olhada dentro das sacolas, tirou o que devia ir na geladeira e guardou.
Sentia-se bem na casa da morena, Argo a observava da porta e movia seu rabo cada vez que Andy lhe dirigia um olhar e um sorriso.
Escutou Luciana abrindo a porta e em dois segundos depois estava lá. Ficou olhando à pequena mulher guardando as garrafas de água na geladeira.

- Mas, o que está fazendo?- foi até a garota e pegou as coisas de suas mãos.
- Só estava guardando as coisas que vão na geladeira. - Andrea apoiou-se na mesa e baixou o olhar .- desculpa por mexer em suas coisas.
- Desculpa Andy, não quis ser bruta e se aproximou dela e levantou com um dedo o seu queixo- é que você é convidada... não quis ser rude.
- É que estava aqui sozinha e me senti inútil.
- Tá, vamos terminar de guardar isto e faremos a comida, quer? - um sorriso apareceu em seu rosto e foi até Andy dar-lhe um novo beijo na testa.
- Está bem. - disse Andrea enquanto guardava as coisas que restavam nas sacolas e tentava acalmar seu coração.

Uma hora mais tarde estavam comendo o que juntas tinham preparado.
Andrea pegou um pouco de arroz e levou-o devagar a sua boca. Os medicamentos e a quimio tinham debilitado seu corpo e nos últimos dias suas mãos começaram a tremer. Luciana observou-a e depois atreveu-se a perguntar.

- Está bem? - Luciana olhou o pálido rosto.
- Sim, é alguns dias comecei a tremer, e liguei para o Dr. Farías e disse-me que era normal. Seria em alguns momentos... não se preocupe - disse olhando-a.
- Se está dizendo - Luciana lembrou de algo e sorriu - fiquei sabendo que em algumas semanas será seu aniversário.
- Sim no dia 15 de fevereiro...
- Vai fazer algo?- perguntou de supetão.
- Não sei, talvez minha avó e meus tios venham. Faremos uma reuniãozinha com os mais chegados, não temos muita grana pra gastar com festa... está convidada, e seu irmão também.
- Direi a ele. - Luciana levantou-se e recolheu os pratos. Deixou-os na pia e voltou com um pote de sorvete - seu pai disse-me que gosta com cobertura de chocolate.
- Eu amo sorvete- seus olhos brilharam com força. Levou-se uma colherada à boca e sorriu-lhe.

Andrea voltou para casa só a tarde, seu pai estava limpando uns objetos decorativos do edifício quando ela desceu do elevador. Um sorriso iluminou o seu rosto ao vê-la. Mesmo o lenço e a máscara ofuscando sua beleza, para ele sua pequena era única. Andrea foi até onde estava seu pai e falou com ele. Vários dos proprietários alegraram-se ao vê-la, e recebeu alguns sorrisos e abraços. Já estava em casa uma semana e meia, e ainda recebia muito carinho das pessoas. Andy quase não tinha saído da casa, com medo de pegar alguma doença, coisa que não seria bom, porque estava com a imunidade baixa.

Depois do banho e de jantar, o pequeno corpo acomodou-se em sua cama e lentamente dormiu.

Cinco andares acima, uma morena de penetrantes olhos azuis, revisava seu e-mail e tinha uma nova mensagem de Marina.
Sempre era igual, diversas fotos delas e mensagens dizendo que ela era sua.
Que iludida!!, só uma pessoa, baixa e com ar de anjo é capaz dessas coisas...
Luciana não podia acreditar como chegou a amar aquela mulher.
Como tinha caído em seus braços.
Luciana sorriu para si, era uma adolescente... uma estúpida e ingênua adolescente.
Quando Luciana conheceu Marina mal tinha entrado na faculdade, quanto tempo faz isso...alguns anos.
O patético foi que Luciana namorava Roberto... seu primeiro amor... estava apaixonada por ele. Mas chegou Marina e a encheu de elogios e palavras bonitas e mexeu com sua estrutura. Questionou seriamente sua sexualidade até que chegou à conclusão de que Marina lhe atraía muito, inclusive mais que seu namorado. Por isso quando Marina a convidou para jantar não duvidou em aceitar. Horas mais tarde, dois corpos suados, encontravam juntos rendidos a paixão em uma cama de hotel.

Marina lhe ensinou muitas coisas. Caricias suaves, beijos em lugares especiais e uma forma de fazer amor que com seu namorado nunca tinha experimentado.
Pegava muito no seu pé, Marina não lhe deixava sozinha sempre do seu lado, tinha ficado muito possessiva e fazia muitas cenas de ciúmes. Coisa que para uma mulher independente era demais. Uma manhã decidiu que não podia seguir com aquilo... foi nessa mesma manhã que se mudou e conheceu a Andrea... E no momento em que lhe dirigiu seu primeiro sorriso e um tímido "Oi", e depois se apresentou. Sentiu algo muito forte pela garota.

Uma semana depois Marina saía de seu apartamento furiosa. Não gostou do fora que levou de Luciana. "Não quero mais você", foi o que disse.
Foi impossível não nos encontrar na faculdade, mas não voltamos a nos falar.
Mas agora...

- Devo fazer ela parar com isso, Marina e vou fazer.

*****

Andrea acordou vomitando muito, a sessão de quimioterapia do dia anterior tinha acabado com seu estômago e suas forças.
Estava deitada na cama da clínica, sempre tinha que fazer ficava um dia internada, por sorte já era hora de ir. Só voltaria ali daqui a 15 dias e seria a última aplicação de quimio que iria fazer.

O Dr. Farías entrou no quarto e encontrou Andrea olhando pela janela, seus olhos estavam fixos em uma nuvem que passava.

- Olá - o médico foi ao lado de Andrea e sentou-se na cadeira que estava ao lado da cama, viu uma mochila apoiada na cadeira e perguntou.- É da Luciana?.
- Sim, foi na lanchonete .. - explicou com a voz rouca.
- Ok, Andrea tenho boas notícias para ti. - a mulher sentou-se na cama e como de costume agora olhou para o braço com o soro.
-É sério?.
- Sim, a doença reduziu-se em noventa e cinco por cento... acho que com a última aplicação em quinze dias, teremos tido sucesso.- o médico lhe deu os resultados de seus enxames seus glóbulos vermelhos e plaquetas estão-se normalizando, isso quer dizer que está quase curada... mas isso não quer dizer que não precise mais vir me ver todos os meses... terá que fazer enxames mensais. E com o tempo vamos aumentando o tempo dos enxames.Está entendendo?
- Sim, mas quando terminar tudo, poderei voltar a minha vida normal?
- Não se preocupe Andy... voltará a ser a mesma em alguns meses.
- é o que mais desejo... sabe doutor... - Andrea olhou para a janela e depois focou seus olhos nos do médico que a olhavam atentos- gostaria de viajar para o campo por uns dias... você me libera.
- Andy, eu acho melhor esperar até a última aplicação... faltam umas semanas, sei que está cansada de ficar trancada em casa.
- Sim doutor... vou ter paciência. - Andrea sorriu e um suspiro saiu de sua boca. Seus olhos dirigiram-se para a porta do quarto. Luciana entrou e olhou para o médico com uma sobrancelha arqueada.
- Aconteceu alguma coisa?- perguntou
- Não, só estava dando uma boa notícia para a Andrea- Luciana se aproximou da e sentou-se no pé da cama - bom Andy... a tarde poderá ir casa.
- Obrigada.

O médico retirou-se e deixou-as sozinhas. Luciana pegou a mão onde tinha o catéter e o examinou, e Andy sorriu.
Andrea levantou sua mão e apoiou-a suavemente na bochecha de Luciana.

- Oi - Luciana pegou a mão dela e entrelaçou com a sua.
- Como está? - Andrea suspirou e acomodou-se na cama e cruzou as pernas.
- Bem, só meu estômago que está ruim. - Andy sorriu e se olharam quando uma enfermeira trouxe a bandeja de comida.
- Acha que consegue comer?. - Uma careta de desgosto cruzou o rosto da jovem. Consentiu.
- Tentarei.

A comida da clínica, fica melhor se estiver acompanhada.
Andrea se sentou no sofá e Luciana a seu lado, e a bandeja com a comida estava entre elas.

- Sabe, quando eu era menina...
- Mas ainda?... - brincou a morena.
- Lucy - Andy voltou a olhar pela janela e depois para sua amiga.- Quando era mais pequena que agora... minha mãe e meu pai sempre íamos para o campo nas férias... - Luciana retirou a bandeja e colocou em cima da cadeira, Andrea sentou-se mas para trás e apoiou as costas no peito da morena, aquilo já tinha virado um costume entre elas. Um estremecimento correu por seus corpos ao sentir o contato com a outra.
- Está bem?- perguntou enquanto envolvia em seus braços a sua pequena.
- Sim - disse de supetão ao se ver abraçada - quando terminar isso tudo gostaria de ir para o campo.

Luciana virou Andrea e olhou-a nos olhos, o brilho que sempre tinha visto neles e que tinha apagado, começou a surgir novamente. A força dessa menina assombrava-a, provavelmente ela teria se rendido, mas sua pequena como a chamava em segredo, não... a menina era muito forte.

- Andy... olha... quando tudo isto terminar faremos essa viagem. - sua mão livre acariciou-lhe a bochecha. Andrea cedeu a seus sentimentos e à caricia. Fechou seus olhos e um sorriso assomou em sua boca que estava seca por causa dos medicamentos. Um turbilhão de emoções correu pelo seu corpo.
- Abraça-me... por favor. - Seu corpo em segundos foi rodeado por uns braços longos e fortes.- Preciso que me abrace...

Um momento depois, Andrea separou-se do corpo de sua amiga, se aproximou lentamente e olhando-a nos olhos, deu-lhe um beijo suave e terno nos lábios.

- Obrigada - sussurrou. Depois levantou-se e correu para o banheiro.


Luciana não entendeu o que tinha acontecido ali... ela ficou paralisada no momento em que Andy foi se aproximando e sentiu os lábios dela sobre os seus.

Andrea encostou na porta do banheiro, seu coração batia a mil por hora, não tinha planejado fazer aquilo, mas cedeu a seus desejos...
Tinha sido maravilhoso, oh meu Deus... - Andrea tampou sua cara com as mãos e e um pequeno grito saiu de sua garganta.
Em segundos a porta foi aberta e Luciana entrou, em seu rosto podia se ver preocupação, mas também um brilho em seus olhos.

- Esta bem Andy?- Como ela é linda !!! - Andrea?
- Sim, claro.- um rubor instalou-se em suas bochechas. - Sim, estou muito bem.- Andy sob o olhar , e depois sorri.
- Em sua resposta pode ver um toque de humor. - Vou tomar banho. E depois podemos ir embora.
Luciana fechou a porta do banheiro e um sorriso instalou em seu rosto. Estava apaixonada por aquela menina. Seu sorriso aumentou ao recordar que daqui uma semana era o seu aniversário.
Lucy... essa será a sua oportunidade, aproveite.

Vestiu um jeans escuro e camiseta rosa, colocou o boné com a aba para trás. Passou um pouco de maquiagem em seu pálido rosto. E calçou os sapatos.

- Acho que já estou uma gata - e uma careta surgiu em seu rosto quando o catéter doeu um pouco - na próxima semana estou livre de você, brincou.
- Andy, minha filha o que foi? - a voz de seu pai a tirou de seus pensamentos. Abriu a porta e sorriu.
- Já, estou pronta?.

Andrea e seu pai chegaram no restaurante. O zelador levou-a para uma mesa e pediu que se sentasse.
Andrea advertiu que a mesa era para quatro, mas eles eram só dois.
Uma mão posou em seu ombro, e uma voz cálida e musical sussurrou em seu ouvido.

- Feliz Aniversário - e um beijo em sua bochecha, a levou ao céu.
- Obrigada- Luciana sentou-se a seu lado e sorriu-lhe.- Mas??
- Foi convite dela - disse seu pai meio. Andrea ficou vermelha e baixou o olhar.
- Obrigada Lu... - Andrea olhou-a nos olhos e viu o brilho neles. O mesmo que tinha apreciado nos seus.

O jantar foi maravilhoso, e agora estavam na sobremesa. Andrea e Luciana tomaram sorvete e seu pai um café.

- Senhoritas terão que me desculpar, mas eu já volto - Juan levantou-se e foi rumo ao banheiro.
- Seria estranho se não voltasse.- disse Andrea. Comeu mais uma colherada de seu sorvete. Luciana olhou-a e sentiu uma onda de calor ao vê-la lamber a colher.
- Lu?? - a morena saiu de seu mundo e corou.
- O que? - Andrea começou a rir, coisa que contagiou Luciana. Era encantador vê-la rir. Enchia sua alma. - Tem sorvete no rosto.
- Tem?... onde?- Luciana passou um dedo pela comissura da boca de Andrea. A pequena, fechou os olhos e desfrutou da caricia. Lentamente abriu-os e encontrou-se com os olhos de Luciana. Um sorriso aflorou em seus lábios que foi acariciado pelos suaves dedos.
- Já tirei - disse Luciana e sorriu em seguida - Está se sentindo bem?
- Estou ótima Lu... obrigada - Andrea olhou e viu seu pai retornando a mesa e lhe sorriu.
- Bom meninas eu tenho que ir, amanhã tenho que levantar cedo.
- Não se preocupe já vamos, só vou pagar a conta.
- Não, eu pago Luciana.
- Juan, isto foi um presente para sua filha. Por favor
- Então tá, obrigado.- disse o pai.- O que vão fazer?
- Não sei talvez passear um pouco... quer?.
- Sim, a noite esta muito linda.

Luciana pagou a conta e saíram do restaurante, Juan entrou no carro depois de se despedir delas, e foi pra casa.

Caminhavam, e Luciana olhava Andrea a seu lado. Chegaram até onde tinha estacionado o carro e a convidou para entrar.
Foram para o centro passaram pelo Obelisco, emblema cultural da cidade, passearam pela zona dos teatros e cinemas. Sábado à noite a cidade ficava mágica. Luciana pegou uma avenida que levaria até a praia e estacionou em frente ao mar.
Caminhavam descalças deixando que a água tocasse seus pés. A lua estava alta e brilhante, e uma suave brisa tocava em seus rostos.

- Está mesmo uma noite linda - soltou Andrea rompendo o silêncio.
- Linda mesmo... - Luciana parou e pegou em seu braço. - Andy?
- Luciana.- Andrea se aproximou do corpo mais alto e encarou seu olhar.
- Luciana pegou sua mão e apertou-a suavemente. Andrea subiu a mão e colocou em seu rosto.
- Lu... - Luciana sorriu e se aproximou devagar. Roçou seus lábios nos da jovem e sentiu que ela colou em seu corpo. Separou-se por um segundo e olhou-a nos olhos. - E voltou a tocar os lábios de Andy.
- Andrea abraçou o seu pescoço e atraiu-a para sua boca novamente.
Luciana queria devorar à pequena, seu coração estava acelerado, a pegou pela cintura e apertou-a contra o seu corpo.
A língua de Andrea encontrou-se com a outra com a mesma curiosidade, uma corrente lhe atravessou os sentidos quando se tocaram.
Luciana terminou o beijo chupando o lábio inferior de Andy.

- Pelos Deuses - exclamou Andrea.
- Está bem? - Luciana preocupou-se.
- Sim foi... foi... - Luciana começou a rir e Andrea olhou-a . E Luciana voltou a beijá-la. Quando por fim cederam às exigências pulmonares, Andy rio e a abraçou.
- Foi muito bom.

Seguiram caminhado pela praia, mas a cada segundo paravam para se beijar.


Estavam sentadas na areia, e a morena tinha entre seus braços aquele pequeno corpo. Sua cabeça no ombro e suas mãos entrelaçadas.

- Sabe que no dia que me beijou na clínica, me deixou paralisada - confessou Lucy.
- Foi? eu pensei que não tinha gostado...
- E quando voltei ao normal já estava no banheiro - Lucy a abraçou mais forte - e então te ouvi gritando.
- Foi de alegria... e surpresa, achei que nunca faria aquilo Lu, mas te olhei e não pude resistir.
- Pois alegro-me que não tenha resistido. - Andrea se virou e olhou-a. Lentamente voltaram a se beijar.

Quando voltaram para o edifício, Luciana e Andrea se despediram na porta do elevador com um beijo longo e excitante.

- Andy? - Andrea se virou - Feliz Aniversário.
- Obrigada. - um sorriso apareceu em seu rosto.
- Espero que goste de meu presente.- e a porta do elevador se fechou deixando a Andy intrigada.

Andrea entrou em silêncio e foi para o banheiro, tirou aquela roupa e colocou seu pijama e foi para o quarto, acendeu a luz e quase desmaiou quando viu em cima de sua cama um cachorrinho Boxer, com um laço rosa amarrado a seu pescoço, e sobre sua mesa um cartão.
Cercou-se lentamente e o pegou, o pequeno cachorro acordou e bocejou mostrando seus pequenos dentes e uma rosada língua. Ficou curiosa e se deu conta que era uma cachorrinha.
Pegou o cartão e abriu.
Sua caligrafia enfeitava o cartão suavemente perfumado.

" Feliz Aniversário, meu anjo.
Espero que tenha gostado de tudo, eu adorei.
Que achou de meu presente?... viu como é linda.
Espero que tenha gostado dela.
Quero-te.
Lucy"

Andrea, encostou na cama e colocou à cachorra sobre suas pernas e, um sorriso apareceu em seu rosto e acariciou os lábios. Recordando os beijos que tinha dado em Luciana.
- Brisa... acho que estou apaixonada... o que acha?- Deitou-se e colocou Brisa do seu lado . - Sabe que você é lindinha?

Fechou os olhos e viu Luciana.
E assim com essa imagem dormiu.

Fernanda
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